Caindo na real


O laço de fita
e a roupa que me faz bonita
distanciou-me de ti

O abraço já não toca a pele
a veste que me protege
criou uma armadura de cetim

Vazia tornei-me               camuflei a essência
                                                             vivo hoje de aparência
                                                             com cheiro artificial de jasmim

Subestimei esse traje ornado,
capa de seda moldada, dia após dia
como uma barreira de gelo entre nós

Agora quero rasgar tudo!
Abominar essas futilidades
e seus adornos de superficialidades 
para tê-lo de novo pertinho de mim

Como é difícil a gente se desnudar perante o outro! Tanto por dentro se esvaziando do egoísmo, arrogância, inveja e preconceitos, como por fora tirando a mascara social. E essa então se torna tão intrínseca que passa a ser à parte de nós que nos identifica e ao mesmo tempo nos separa uns dos outros. Em seu livro Parem de falar mal da Rotina, Elisa Lucinda retrata muito bem esse paradigma quando diz: “Ora, o homem quando está nu é igual ao seu semelhante. O homem nu é o homem real, despido das ilusões separatistas. Sua condição de necessitador de comida, bebida, saber e amar é igual a do outro. Variam doses e porções, mas não se prescinde do verbo necessitar. Se nos despimos de nossos códigos que nos etiqueta em categorias, somos pobres humanos (e dessa condição, ricos) de iguais direitos e deveres”.