No Imbuí de Salvador

Preservação do ecossistema         Ecologia equilibrada
Sustentabilidade
Palavras vãs no Imbuí de Salvador

O Rio das Pedras pede socorro
agonizando em seu leito
mesmo com o grito abafado
ouço-o mendigar amor

Sem dó nem piedade
estão lhe matando aos poucos
Vivo, foi decapitado                          
Em pedaços, enterrado

Trancafiado em seu tunel                                Ficou dificil respirar                                  não pode mais brincar com a lua
nem com as estrelas namorar

Eu que nunca me banhei nele
sinto em mim a sua dor
pois é de sua natureza correr livre
a luz do dia e depois do sol se pôr


Quando vi o Rio das Pedras sendo empurrando para debaixo do concreto me cortou o coração! O que acontecerá com a vida que ele ainda carrega? Por que não foi feito um belo projeto de revitalização? Por que não despoluir e recuperar esse recurso hídrico da cidade, tendo como conseqüência mais um elemento de contemplação da população? Por que foi escolhido o caminho do cimento e do asfalto? E assim vamos nós seguindo mais uma vez na contramão do orgulho baiano... (Delma Teixeira) 



Poesia encomendada

Escrever poesia é como lavar roupa a mão...
além de bater, esfregar, torcer
e passar bastante sabão
tem que ter paciência e muita dedicação

As vezes, para nossa alegria, nos chega inteirinha
escrita de uma só vez;
outras vezes vem por partes...
um pedacinho aqui, outro pedacinho acolá

Como também surge de forma inusitada
ora dirigindo numa estrada
outra num hotel de madrugada
sem papel ou lápis para anotar
                                
Difícil mesmo é a encomendada
pois forçada é a sua parição
com os minutos e a hora marcada
e o tempo certo de gestação



    E essa nasceu
   á-toa               
   Paradoxal
   Sem compromisso
   Poesia de ocasião

O meu grupo de teatro nasceu como algumas crianças nascem; sem nome que o identificasse. Fiz uma lista de 50 (cinqüenta) nomes e de forma bem democrática por maioria de votos venceu o nome SoRisos.  No dia em que o grupo foi batizado, nessa mesma ocasião, surgiu um forte desejo do grupo por uma poesia que sintetizasse a sua trajetória. E a mim foi encomendada a criação. O que me deixou numa sinuca de bico. E foi esse dilema que me inspirou o poema da situação em questão. (Delma Teixeira)

Caindo na real


O laço de fita
e a roupa que me faz bonita
distanciou-me de ti

O abraço já não toca a pele
a veste que me protege
criou uma armadura de cetim

Vazia tornei-me               camuflei a essência
                                                             vivo hoje de aparência
                                                             com cheiro artificial de jasmim

Subestimei esse traje ornado,
capa de seda moldada, dia após dia
como uma barreira de gelo entre nós

Agora quero rasgar tudo!
Abominar essas futilidades
e seus adornos de superficialidades 
para tê-lo de novo pertinho de mim

Como é difícil a gente se desnudar perante o outro! Tanto por dentro se esvaziando do egoísmo, arrogância, inveja e preconceitos, como por fora tirando a mascara social. E essa então se torna tão intrínseca que passa a ser à parte de nós que nos identifica e ao mesmo tempo nos separa uns dos outros. Em seu livro Parem de falar mal da Rotina, Elisa Lucinda retrata muito bem esse paradigma quando diz: “Ora, o homem quando está nu é igual ao seu semelhante. O homem nu é o homem real, despido das ilusões separatistas. Sua condição de necessitador de comida, bebida, saber e amar é igual a do outro. Variam doses e porções, mas não se prescinde do verbo necessitar. Se nos despimos de nossos códigos que nos etiqueta em categorias, somos pobres humanos (e dessa condição, ricos) de iguais direitos e deveres”.

As aparências enganam

  
No cheiro do seu verde musgo
exala uma forte fragrância
exuberante de virilidade
e requintada elegância

Diante de tanta altivez
desabrochou
uma flor lilás suave
de pétalas sensuais


Inesperado ver brotar             Vestida de frágil aparência
naquele pé masculino             na sua essência
mimosa, bela e singela           esconde um misto de audácia
um botão de flor feminino       e determinação

Essa flor delicada e pequenina                                             
camuflada em meio a tantas outras
no pé de manjericão do meu jardim

ostentou sua presença
e sem interferência
atraiu um beija-flor

Um pé de manjericão plantado na jardineira do meu APÊ virou poesia! Não é que ao observar crescer seu caule e folhas um belo dia eu vi  nascer uma flor  lilás pequenina e muito delicada! Não sabia que do manjericão brotava flor! São nessas pequenas descobertas que vejo a grandiosidade da vida. Isso me encanta! Como pode uma simples sementinha guardar a perfeição de uma flor nos seus ínfimos detalhes?

Meu desejo é ficar

Tão pequenino
Dentro d’água
Vivo tranqüilo
Nem preciso pensar

De tudo a hora
Não me falta nada 
Casa e comida
Quero aqui ficar


     Quando de repente
      Tudo sacode
      Um terremoto
      O que será?
  
      E contraído
      Sendo empurrado
      Estou sufocado
      Vão me expulsar                 


Agora estou fora                 —Seja bem vindo!
Desamparado                     —Buá! Quero voltar...    
                 (Delma Teixeira)

Quando perguntei ao meu sobrinho de quatro anos de que se tratava a poesia, ele me disse que eu estava falando de um peixinho que pulou fora do aquário por que estava com medo do gato.  Falei que ele tinha razão, pois olhando agora com os seus olhos também tenho a mesma percepção.
O interessante da poesia é que cada um faz a sua viagem. E essa pode ser uma outra completamente diferente da vivenciada pelo autor.                               

A contorcionista

Torce                 
Contorce
Distorce
Recria

Emoções
Significados
Oscilações
Vivencia

 
Numa busca  sem fim             
mergulha no ser
Faz da forma a reforma
e caminha

Abre a bagagem
desvenda mistérios
Troca de roupa
uma nova energia



No circo 
e na vida
transforma tristezas
e resgata alegrias 
 
Na vida exercemos vários papeis: mãe, filha, vizinha, amiga, colega, patroa, empregada, mulher, esposa, atriz... etc e temos que fazê-lo num torce, contorce sem fim, sempre procurando extrair o melhor de nós, no sentido do máximo desempenho, mas nem sempre isso é possível, a vida é dinâmica, não deixa espaço para ensaios. E nesse contexto em que tudo acontece ao mesmo tempo, as emoções se entrelaçam, os significados se confundem e nessa caminhada vamos descobrindo novas formas de fazer, criar, amadurecer, transformar e resgatar no profundo do ser o objetivo maior do nosso eu que é amar e ser amado. (Delma Teixeira)

INTIMIDADE

Junto de mim se encostou
se enroscou
cheirou
lambeu
Se deitou
se encolheu
Saciado                    
mimoso
                                             adormeceu
(Delma Teixeira)

A intimidade é um ingrediente básico em qualquer relacionamento. Apesar de tão simples e direta para os animais é em contrapartida complexa e variável nos seus diferentes significados para os seres humanos. Ao contrário do que algumas pessoas pensam a intimidade não é um direito de posse nem tão pouco o rompimento de todos os limites.


 No meu ponto de vista quanto mais intimidade, mais deve existir respeito e consideração, pois ela representa a comunhão de almas, o entrelaçamento de energias convergentes para uma maior interação. Mas por que nós complicamos e confundimos este elo maior de aproximação entre os seres? E por que às vezes nos excedemos tanto nela para agredir e maltratar ao invés de a usarmos apenas na expressão carinhosa de nossos afetos?  Ficam no ar estas perguntas, contudo foi no agradável momento de caricias do meu gato se enroscando na minha perna que me inspirei para falar sobre o tema. Mimoso pertenceu ao meu passado e Marie é o meu presente.

O melhor galho


Um passarinho voou
Na minha janela pousou
Veio me visitar
presenteando-me
com o seu cantar

Pulando de galho em galho
Com leveza e harmonia
Fiquei extasiada com a beleza que eu via

Na sua simplicidade
ficou o tempo que queria
                           
Sem muito se preocupar em querer me agradar                                                                     Sem muita complexidade                  Nem fingir ser ou não ser
Querendo apenas o obvio
ele voou e foi-se embora

Ai quem me dera a vida
fosse só essa magia
E se pudesse escolher
sem receio de errar
como um passarinho
qual melhor galho ficar

Quando pensei em publicar um livro de poesias, a minha idéia inicial era fazê-lo ilustrado. Sou muito visual e as pinturas de Fátima Tosca foram o que a principio despertou a minha atenção. Existe entre mim e ela uma convergência de pensamentos no foco de nossos temas. A poesia “O melhor galho” surgiu exatamente da forte impressão que ficou do seu quadro “De galho em galho para o melhor galho ficar”, em concomitância com a surpreendente aparição de um passarinho, pulando de galho em galho, na jardineira da minha janela.

Poesia em pauta -Não é mágica


Não é mágica                                        
                                        

Mora num lugar chamado essência                            
No território da sensibilidade
Na rua das oportunidades
Dentro da casa das emoções

Estímulos abrem janelas
O sol adentra iluminando
Faz brilhar uma centelha
Acende fagulhas de ilusões

Parece uma magia
Germina ação na alegria
Transforma-se em energia
Alicerça inspirações


Sempre reproduz o íntimo
Que já existe desde a semente                                     
Onde o oculto é revelado
Em outro jeito de olhar

Com ela ultrapassam-se barreiras
Rompem-se as fronteiras
Numa linguagem própria
Consegue comunicar

Está na expressão singular do ser
No permanecer no eterno e no agora
No transcender o novo e o velho
Em ser criatura e criador


    Tudo isso
    É arte


Quando comecei a fazer teatro fiquei encantada, jamais imaginei que fosse capaz de representar. A principio tentei esconder a minha timidez fazendo palhaçadas e só queria rir e brincar. Depois vi que a coisa foi ficando mais seria, até que no palco fui obrigada a me desnudar. A arte de representar foi aos poucos para mim se revelando e cada dia que passava eu ratificava que a gente pode ser tudo aquilo que acredita. A cada oficina eu escrevia um verso dessa nova descoberta. Não é mágica é a soma de todas as nuances desse novo véu que se descortinou e uma homenagem a todos os artistas de todas as artes possíveis e imagináveis desse planeta terra.

Simplicidade

                              06                                        

    Arraigada dentro d'alma
    Revela-se a flor da pela sem vaidade
    Persegue fiel ao sentimento do coração
    Não se deixa levar pela submissão

    Bela na sutileza dos seus gestos
    Ausente no emprego de artifícios
    Presente no tocante à emoção
     Atua modesta na sua realização 
  
 S ̄o Felipe2010 015


Transparente como um cristal
Leve como um floco de algodão
Múltipla no infinito espaço sideral
Única no propósito claro da ação



Voa nas asas da borboleta   
Alimenta-se como um beija-flor
Sorri nos lábios de uma criança
Pega na mão do seu amor


Uma semente que germina
Pássaros que voltam ao seu lar
A doce ternura de uma menina
O velho saber de cativar

Serena, pousa no instante
Do essencial faz sua constante
Sem rodeios, sem conflitos...
Contenta-se em ser só o que é

   
Gosto das coisas simples, sou assim desde criança, não adianta alguém querer que eu seja sofisticada, patricinha, dondoca, madame, nem tão pouco extrovertida ou espalhafatosa, isso não combina com meu temperamento. 
Quanto mais simples o gesto mais aguça a minha curiosidade. Foi neste observar solto que no dia da estréia de Lisistrata vi meu diretor arrumando as cadeiras na platéia do teatro, acomodando sensivelmente as pessoas, colocando na frente os mais idosos e de difícil locomoção. Aquele gesto chamou minha atenção. Ele, nosso diretor, um rapaz jovem, que, na sua condição hierarquicamente superior poderia ficar apenas de camarote, fazendo só o que lhe diz respeito. Não! Estava ali dando o maior apoio. Foi naquele momento que surgiu os primeiros versos inspirados em um comportamento com toda simplicidade de ser. 

O amor pulsa

Fotos de mulheres gravidas


Mexe com o pé
Bole com a mão
Empurra a cabeça
Bate o coração

Se alimentando
Vai se esticando                                                                                              E do meu corpo...
                                                        vai se apossando
                                                                                                                                                                       
            
E gostoso sentir
dentro de mim             
Como desejo...
tê-lo nos braços

Corta o cordão
fica o laço

(Delma Teixeira)





A gravidez foi um momento divino na minha vida. Encarnada em mim estava à própria Deusa da Criação. Eu me sentia encantada, inebriada de tanta felicidade, como se fosse à única pessoa no mundo escolhida para gerar vida e vê-la crescer dentro de mim. A cada movimento do bebê eu curtia a sensação de prazer, o amor dentro de mim crescia. Eu sabia que aquela criaturinha, sangue do meu sangue, carne da minha carne, logo, logo, seria uma parte de mim que ganharia independência, mas o laço incondicional de amor que nasceu daquele relacionamento iria ficar para sempre.



Laços

Laços vermelhos, rosa,
eternos, passageiros;     
azuis, amarelos,             
fraternos, de família       

Laços pardos, lilás,
amigáveis, desleais;
pretos, dourados,
verdadeiros, dissimulados



        Laços cenoura, prateados,        Laços verdes, imaturos,              
        íntimos, reformados;                 conscientes, maduros;     
        cor de abóbora, marrons,          bege, escuro,                  
        fingidos, dissolvidos                  forte, seguro                    
                       
                       
Laços cinza, brancos,      Laços laranja, coloridos,   Diga-me, agora:  
no presente, no vestido;    sinceros, leais;                qual a cor
grandes, pequenos,          no buquê de flores           e forma
calorosos, amenos           e nos amores                   de seus laços?

                           
Existe um laço que entre todos considero bem especial; o laço de amizade, base de qualquer relacionamento bem sucedido. Para ilustrar esse laço vou contar a historia do Dr. Artur. Historia essa, fruto da minha mania recorrente de perguntar para as pessoas, com maior incidência na área de saúde, o porquê de ter escolhido determinada profissão.
Respondendo a minha pergunta na ocasião de uma consulta, ele me contou que quando era criança tinha um amiguinho com problemas de visão que enxergava pouco e usava óculos com as lentes grossas, aquela dita “fundo de garrafa”. Vendo a dificuldade do amiguinho para ler e a grave doença que o acometia; um dia lhe prometera que quando crescesse seria medico e cuidaria dos seus olhos. Promessa essa cumprida, ele se tornara medico com especialidade em oftalmologia; fez muitos estudos do caso, algumas intervenções cirúrgicas, porém só conseguiu salvar um olho. Hoje este amigo é padre e os dois continuam zelando por esta bonita amizade.

Poesia em pauta - Tecendo pensamentos

Tecendo pensamentos

Quando pensamos
que somos fortes como uma rocha
vem as circunstancias
e nos faz sentirmos frágeis como um cristal

Quando pensamos
que somos independentes
vêm as circunstâncias
e nos mostra que sempre precisamos uns dos outros

Quando pensamos
que está tudo bem
em perfeito equilíbrio
vem as circunstancias
sinalizar que a vida é como uma onda que vai e vem
sobe e desce

Quando pensamos
que não temos mais medo
vem as circunstancias
e nos faz experimentar mais uma vez
aquela sensação de impotência
diante de fatos e emoções que fogem do nosso controle

Mas apesar de tudo
e sobre tudo
devemos renovar a nossa fé
e fazer aflorar na nossa consciência
a idéia de que tudo é passageiro
e que estamos nesta vida em uma eterna viagem                                                                           
Penso nos amigos
Penso em como sou abençoada neste universo imenso
E penso...
Eu estou viva
e isso me faz FELIZ